quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Se nunca tentar, nunca vai saber




       E desde então se materializou de modo fiel a mim. Como se esse aspecto fosse arquiteto do que estaria por vir. Nome não há... reinicio quiçá. Pôs-se um ponto final àquela saborosa fantasia. Excitação e ansiedade em se fazer uma descoberta: o que estaria por trás de todas aquelas palavras oportunas? Talvez eu soubesse o rumo que se tomaria a partir desse contato, desse tato. As esperas se desfalecem e o descontente riso amarelo torna aos mesmos lábios, intactos. Uma sutil barganha fora tudo o que restou após esse “deparar”. Meias palavras me são extremamente suficiente, sou licenciado em entrelinhas. A ingenuidade nunca me foi qualidade para que uma nova quimera se exteriorizasse. É provável? Creio que não. Além do previsível há muito mais que uma simples transmissão de pensamento. É um antagonismo do essencial comum que plaina entre uma vírgula e outra. Não é probabilidade, é ação e reação. É arriscar-se, afinal, se você nunca tentar nunca vai saber. E nessa colisão entre Newton e Laplace, tudo que tenho a dizer é: que assim seja. Retiro-me...



- Tem alguma idéia?

- Nenhuma...

- Então posso entender que gostou, certo?

- Olha...  

sábado, 11 de setembro de 2010

... mas querido, você é a única exceção.





       Sim, eu ainda vago sem pressa por aquelas ruas que um dia foram nossas. Vejo a marca de suas mãos nas paredes que antes nos serviram de base. Como isso é possível? Eu ainda ouço o som de sua longa e rouca risada a me ver descontente com algo. Como se fosse ontem, sua súplica de remissão complementada por um deleitoso abraço, como remate.  Os rastros dos nossos pés ainda desenhados no chão de areia por sobre a calçada. Aquele edifício baldio, que se encontra em ruínas, já foi palco das mais belas confissões de um amor. Folhas secas voando conforme a intensidade daquela mesma brisa... elas indicam a mudança da estação. O sol se põe, e então eu me perco no tempo. Volto para o meu mundo, sem espera nem talvez. Torno a calcular meus passos e, depressa, a mecanizar o emocional. Tanto tempo se foi e desde então a jura de não mais "sentir", rege-me.  A página virada, e nada mais restou. Apenas um áspero caráter, demasiadamente racional...



" ...and that was the day that I promised I'd never sing of love if it does not exist but darling... you are the only exception"

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Como você, ninguém.

 




   Veemência me é tanta, por que não consigo inspirar-me em ti? Tu que me viste quando, amedrontado, escondi-me atrás de muros. Tu que me tocaste quando impotente despi-me em caráter inerme, e entorpeci. Tu que me ouviste quando, atrevido, calei-me impertinente... inconseqüente. Louco, gritei a mais estridente mudez de minh’alma, e lá tu estavas a me admirar. Tu que me exortaste quando minha covardia sobrelevou meu talento. Me estimulaste a lascívia, e desejou-me em excesso, assim, libertino.  Teu cheiro ainda esparge em meu favorito suéter e faço dele cobertor em manhãs de temporal. Tu que me tapeaste quando receio me foi predominância, e após, consolou-me com um voraz abraço me chamando de “meu menino”. Tu que sumiste sem mais, sem nada. Queria que voltasses ou ao menos me visse aqui. Sentirias orgulho ao ver o homem que me tornei neste tão curto espaço de tempo. Sorriria a ti, e agradeceria da maneira que sei que lhe é agrado... e como sei.  Nada te tirará daqui de dentro, jamais.



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Luzes te guiarão para casa, Bobby





"Confuso em um mundo que não está hábil para compreender o desigual.  Não posso consentir que me exponham à desonra. Humilhado eu serei ao desvendarem a verdade... envergonhar-me-ão severamente. Será que está ao meu alcance esse poder de escolha? Meus cúmplices de trilha me abandonarão, cuspirão em cima do que lhes foi amparo um dia. Sujeito a murros, minha estima pela vida falirá aos poucos e, defesa não me será outorgada. Envenenado serei por quem outrora me amamentou. Por quem me prometera incondicional amor. Eles dizem que me amam, no entanto, desprezam o que sinto. Conferem o máximo do ódio que destilam em cima dos que em iniqüidade sobrevivem, quando de fato, é a mim que condenam. Que Deus tenha compaixão de mim, mas alternativa não há. Que o vento me leve para longe daqui." 



Texto inspirado no admirável filme "Prayers for Bobby".


Torturado pelo medo de ir para o inferno; sinto vontade de desaparecer da face da terra.  (Bobby Griffith)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ninguém disse que seria fácil...




     Momentos, Tormentos. Ocasiões as quais não o elevam ao cume. Um rastro de perda persegue-o... invalidez. Arranhões, cicatrizes sorvem-no a uma triste convicção.  A concepção do mal sucedido lhe confunde, numa fé morta que se contradiz. Cobiça aquilo que é par, anseia a solidão de dois. O pulso antagônico que desvirtua o seu pensar, o seu raciocinar. Ontem era o singular, o individual, o objetivo. Hoje não mais. Sua subjetividade colossal lhe transtorna tanto e tanto, a ponto de querer rasgar-se inteiro. A incontestável teoria de sobrevivência torna-se apenas uma página qualquer, num livro qualquer. À que dedicar-se? A quem devotar-se? Abstração, idealismo, devaneio.  Um querer da utopia a qual não crê. Saudoso lhe é um abraço que se teve e que se fora... carência. Onde ele está agora? Ele quer, ele precisa... ele renega. E não obstante, fecha-se ao término do dia. Nada mais é, que isso: incoerência. Altruísmo, desapego. Um pedido de socorro cativo no espasmo letal de sua terna melancolia. Ele sequer imaginava o quão difícil seria...



Oh take me back to the start!

Na verdade, eu pensava em caminhar



Escuridão, um ruído avassalador, minhas maiores relíquias. Por um milésimo de segundos, a imagem inanimada do que não existiu assombra-me a visão. Uma luz, um nada. Nada do que seja legítimo me é atraente, não agora. O balanço de uma mão que me acarinha, que me alivia. Um sopro impetuoso arrebata-me à essência perdida... O teto desaba! Nada vejo, o sol queima-me os olhos. Prossigo de tal modo, desorientado. Busco insaciavelmente pela sombra que me resguardou, quando sou impulsionado ao submerso. O válido adentra-me sem pedir permissão. Não há mais volta, não há o que fazer. É hora de crescer! Despeço-me do sombrio desatinado e sigo à consolidação do sonho de menino. Correr se faz necessário, o mais rápido que eu puder. Tropeços, Lapsos e Obstáculos. Desperdicei preciosos atalhos, conseqüências virão, eu sei que sim. Na verdade, eu pensava em caminhar, assim sendo, passo a passo. Dediquei-me ao que me era conforto, agora se preciso for, voarei ininterruptamente. Que a aptidão me seja suficiente, amém.  

"A pé, até encontrar um caminho... um lugar, pro que eu sou."

Ele só tinha dezesseis






Batidas apressadas ecoam de ti. Um riso acanhado e inocente que me foi sedutor, assim, imediato. Mãos macias e trêmulas explorando uma nova possibilidade, desconhecida direção. Cabelos molhados, e aos poucos, se alastra um forte aroma de maçã. Clichê prepotência trajada do mais inequívoco pleonasmo. Substantivos que se compõem necessariamente ao imaturo. O repentino.  A obscuridade de palavras que ressoam dentro em mim, constantemente. Rigidez em atos que despedaçaram o que nos era privilégio. Por que assim tão suscetível? Fiz-me fortaleza para te abrigar , fiz-me hostil para te ensinar. E tudo que me deras: um beijo ardente seguido de um cínico pesar. E ainda, que de mim conseguistes extrair uma tamanha apatia. Garoto, me amaste como ninguém poderia. A declaração mais ingênua e leal que a mim foi concedida.  E assim me servirei de ti para todo “o sempre”, em minhas recordações. Seus olhos exprimidos me são prova fiel do que há de mais honesto. Oras, falhastes sim, incontestavelmente. Todavia, nada mais era que a beleza de uma idade ambígua e irresoluta.  Que mais eu podia querer, se deste a mim, tudo o que possuías. Afinal, nada mais tinha, do que apenas dezesseis.


"... estávamos ligados, comprometidos."

E se eu sentir saudades?



Olhe para dentro de si e cace por um pedaço de mim. Avulso, desvendará com o que lhe é perdição. Oscile-o entre corpo e alma, e se satisfaça a gosto. Molde-o, afeiçoe-o.  Como combustível o transponha a ponto de partida. Guie-se vulneravelmente ao que se faz efêmero, abandone imponderadamente o ápice do que se faz costume. Ao deparar-se com os tolos olhos azuis, altere-os, transforme-os. Veja a complexidade do olhar negro que tanto te afaga. Lembre-se minuciosamente de quando fostes meu, somente. Gargalhe do verbo mais ilógico que de minha boca saíste e envolva-se, estigmatize-se. Consegue ouvir? Minha voz como canto suave, exalando ao redor do que lhe é cômodo. Grite o meu nome o mais alto que puder, o mais culminante. Olhe fixamente para o horizonte... consegues ver? Lá eu estarei, inerte. Concretize-me a tudo que lhe for acessível, pois assim o farei. O brilho que de ti reluz me será alimento a essa árdua carência, que governará os seguintes minutos de minha estrada...
  
– Eu não sei. Talvez em dois dias eu volte.
– Tudo bem, eu te espero.
– Mas... e se eu sentir saudades?
 – Ah... me telefona.